Abandono

“Disse o Senhor a Noé: Entra na arca, tu e toda tua casa, porque reconheço que tens sido justo diante de mim no meio desta geração.” (Gênesis 7.1)
“Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti.” (Isaías 49.15)


Como parte o coração quando assistimos a reportagens que mostram crianças recém nascidas sendo abandonadas pelos seus pais, principalmente por suas mães. E não há lugar digno para que isso aconteça (na verdade, creio que nunca haverá, mesmo que seja num berço de ouro, para uma atitude assim vinda de um pai, de uma mãe), pois os locais são os mais variados, desde latas de lixos, bancos de praças, calçadas de hospitais, etc...
Mas um dos casos que mais me chocou foi o que ocorreu no início de 2005, em Belo Horizonte/MG, quando uma menina foi encontrada boiando dentro de um saco plástico (viva, graças a Deus), na lagoa da Pampulha. Além do abandono, a tentativa de homicídio a um ser indefeso. É estarrecedor! Simplesmente inacreditável.
Essas histórias talvez passem longe de nossa realidade, pois nunca em nossa sã consciência faríamos (ou faremos) algo assim com nossos filhos. Mas e no nosso dia-a-dia, será que não nos sentimos abandonados? Quer no trabalho, nas amizades ou na família? Penso que sim.
Também penso que no nosso relacionamento com Deus, muitas vezes, sentimo-nos assim também, principalmente quando comparamos nossa incapacidade perante a grandeza de Deus, nos sentimos indefesos, como aquela criancinha no saco plástico, boiando na lagoa da vida, sentindo abandonados por Deus. Achamos que Deus não olha pra nós e que suas bênçãos caem sobre os outros, mas não sobre “mim”. Entramos numa crise espiritual, de relacionamento de filho X Pai, e começamos, em queda livre, a cair em nossa fé e em nossos conceitos referente a Deus.
Talvez isso se dê, em primeiro lugar, pelo pouco conhecimento que temos da personalidade de Deus. A falta de conhecimento da Palavra nos autoriza a pensar assim. No texto de Gênesis, talvez o próprio Noé se sentisse abandonado por Deus em meio ao caos que a terra estava vivendo naqueles dias. Muito provavelmente Noé tenha sido vítima da violência, da falta de escrúpulo, dos atentados à moralidade e à ética, já que a perversão era “livre, leve e solta”. Noé tinha todos os elementos necessários para se sentir abandonado por Deus, quando o Eterno ordena a entrada na arca, e o verbo “reconheço” mostra que em momento algum Deus tirou os olhos de Noé, e agora era o momento da salvação, do cuidado, do livramento, da Bênção divina.
Muitas vezes pensamos que em meio a tantas pessoas, Deus não tem condições de olhar um por um, mas isso é um engano, pois nenhum fio de nossa cabeça cai sem que Deus não o saiba. Ele olha pra toda perversidade que há na terra, para toda a maldade que nos cerca, e pode nos dizer com toda tranqüilidade: “Reconheço o seu sofrimento, sua luta, sua dor, sua necessidade. Estou cuidando de você, mas da forma que Eu acho ser a correta, não a que você pensa ser o certo, ou avalia ser o que precisa!”
E aí está o grande problema: Esperar e aceitar o que Deus tem para nós. Talvez esse seja o início da nossa crise e acharmos que estamos abandonados. Sintonizar nosso rádio na vontade de Deus e estar sensível a entender e ouvir a voz do seu Espírito é o nosso desafio (e muitas vezes não estamos dispostos a achar essa sintonia, onde desistimos e acabamos ouvindo o que mais nos agrada).
Isaías nos conforta, mesmo vendo tanta notícia de mães abandonando seus filhos, que nosso Eterno Pai, jamais fará isso conosco. Porque então duvidamos? Porque nos sentimos, então, abandonados?
Creio que como crianças mimadas, que exigem tudo em todo tempo, sem medir as conseqüências de nossos atos e sem ter condições de avaliar se o que queremos é realmente bom ou não para nós, nos comportamos em relação à Deus.
Sentiremos acolhidos por Deus quando humildemente aceitarmos o que Ele tem para nós. Assim, verdadeiramente, quebrantados e guiados pelo Espírito Santo, chegaremos a conclusão que NUNCA, em momento algum, fomos abandonados por Deus. Saberemos que mesmo humanamente não vendo absolutamente nada acontecendo como queríamos, Ele está lá, ao nosso lado, cuidando de nós. E isso a bíblia chama de Fé! Por isso que sem fé é impossível agradar a Deus (Hebreus 11.6)


Pr. Lucas Ferreira

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